quinta-feira, 14 de abril de 2011

Circular Informativa - Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais


No dia 18/02/2011, foram publicadas na II série do Diário da República, pela Ordem dos Enfermeiros, as competências para os Enfermeiros Especialistas, através do Regulamento125/2011 – Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação, facto que nos merece a seguinte apreciação:

Reconhecemos que assistem às Ordens Profissionais poderes regulamentares, daí a sua relevância para a defesa da profissão que representam, para identificarem as condições de atribuição, dentro dessa profissão, de títulos profissionais. Nada nos move, portanto, contra a regulamentação das especialidades de enfermagem, enquanto instrumento de qualificação profissional, circunscrito exclusivamente a actos de enfermagem e à profissão de enfermeiro.

Mas não é lícito que, com base e a pretexto dessa regulamentação, se altere o domínio da profissão que a Ordem dos Enfermeiros representa, de modo a que este passe também a abranger actividades que estão reservadas por Lei a outras profissões regulamentadas na área da saúde.

É o que se passa com a fixação, por via desse regulamento 125/2011 da Ordem dos Enfermeiros, das competências da enfermagem de reabilitação que invadem, objectivamente, as que legalmente caracterizam a actividade de fisioterapia e terapia ocupacional, senão vejamos:

Constituindo-se a fisioterapia e a terapia ocupacional num conjunto de cuidados de saúde, regulados por Decreto Lei, e próprios dos terapeutas, dos quais constam terapias manipulativas, meios físicos e naturais, compreendendo a respectiva avaliação, diagnóstico funcional, planeamento, intervenção e reavaliação, não pode esta actividade ser substituída por um qualquer conhecimento empírico, obtido em
sede de uma qualquer especialização por indivíduos que não sejam terapeutas.

Ora, as competências estipuladas naquele regulamento 125/2011, constituem uma violação ao conteúdo profissional dos terapeutas. Com esta regulamentação, os enfermeiros passariam a ser OS profissionais de saúde. Com um regulamento de competências de tal forma alargado que, todos os outros profissionais de saúde passariam a ser dispensáveis, pois, eles poderiam diagnosticar, prescrever, tratar
e tudo o mais que lhes aprouvesse.

Aliás, as competências dos fisioterapeutas e dos terapeutas ocupacionais são tão claras quanto, no seu histórico legislativo, contam com sucessivos diplomas que não deixam qualquer dúvida: Portaria 256 - A/86, de 28 de Maio, Dec. Lei 261/93, de 24 de Julho, Dec. Lei 320/99, de 11 de Agosto e Dec. Lei 564/99, de 21 de Dezembro, fixando este último:

“Fisioterapeuta — centra-se na análise e avaliação do movimento e da postura, baseadas na estrutura e função do corpo, utilizando modalidades educativas e terapêuticas específicas, com base, essencialmente, no movimento, nas terapias manipulativas e em meios físicos e naturais, com a finalidade de promoção da saúde e prevenção da doença, da deficiência, de incapacidade e da inadaptação e de tratar, habilitar ou reabilitar indivíduos com disfunções de natureza física, mental, dedesenvolvimento ou outras, incluindo a dor, com o objectivo de os ajudar a atingir a máxima funcionalidade e qualidade de vida;”

Terapeuta Ocupacional - avaliação, tratamento e habilitação de indivíduos com disfunção física, mental, de desenvolvimento, social ou outras, utilizando técnicas terapêuticas integradas em actividades seleccionadas consoante o objectivo pretendido e enquadradas na relação terapeuta/utente; prevenção da incapacidade através de estratégias adequadas com vista a proporcionar ao indivíduo o máximo de desempenho e autonomia nas suas funções pessoais, sociais e profissionais e, se necessário, o estudo e desenvolvimento das respectivas ajudas técnicas, em ordem a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida;

Nos termos da legislação nacional e comunitária, está-se perante uma profissão regulamentada quando determinadas actividades, competências e conteúdos funcionais estão reservados a quem seja possuidor de um determinado título profissional, neste caso o titulo de Fisioterapeuta ou de Terapeuta Ocupacional.

Dada a hierarquia das normas jurídicas, não pode um regulamento, mesmo que emitido por uma Ordem Profissional, alterar as disposições de uma Lei quanto à regulação das condições de atribuição destes títulos profissionais e identificação das respectivas actividades, competências e conteúdos funcionais.

Quem, não tendo o título profissional exigido por Lei para exercer as funções de Fisioterapeuta ou Terapeuta Ocupacional, mesmo assim as desenvolva, está a cometer um crime de usurpação de funções, previsto e punido no Código Penal. Tal como também comete este mesmo crime quem, não tendo o título profissional de Enfermeiro, exerça actividades de enfermagem.

Assim, todas as actividades de enfermagem que, em matéria de reabilitação, compreendam intervenções para além do posicionamentos, mobilizações passivas, transferências e treino vesical, são objectivamente uma invasão das competências próprias dos terapeutas e, por constituírem um crime de usurpação de funções, devem ser comunicadas às entidades reguladoras e fiscalizadoras, e encaminhadas para os tribunais.

6 comentários:

Anónimo disse...

Penso que quem escreveu esse comentário não conhece a realidade nem o excelente trabalho desenvolvido pelos enfermeiros de reabilitação em áreas tão específicas... a diferença do enfermeiro de reabilitação para outros técnicos é que por exemplo num cliente submetido a artroplastia da anca, o terapeuta só vê a anca, o enfermeiro vê o cliente como um ser holístico nas suas mais diversificadas dimensões... ou seja vê a anca e conhece e identifica outras àreas.
Mais, na àrea da cinesiterapia respiratória, não vê só o pulmão, sabe auscultar, interpretar a terapêutica administrada, sabe gerir técncias, gerir o ambiente...realmente enfermagem de reabilitação é muito mais que isso...

Mas sosseguem, que num mundo como o que hoje vivemos há espaço para todos, todos são importantes e todos se complementam.
eu trabalho com terapeutas, e a relação é extraordinária, pois na nossa equipa deixamos de olhar apenas para o nosso umbigo e atendemos ao maximo benefício do cliente.

Recordo-me quando tirei a especialidade em reabilitação que cheguei a solicitar a amigos (terapeutas) material sobre rotura de tendão de aquiles, AVC, entre outras patologias e não considerei que a enfermagem de reabilitação ficasse atrás do vosso conhecimento, antes pelo contrário... um enfermeio tem uma visão muito alargada. Sabe agir perante situações de emergência ao passo que os terapeutas têm que pedir ajuda, que não sabem canalizar uma veia, não sabem intervir em múltiplas situações, porque o que desempenham é tarefas. Se atendem um cliente com tendinite no ombro só vêem aquele ombro,pois meus caros.. enfermagem de reabilitação é mais do que tudo isso. Só quem está deste lado é que compreende esta visão, uma visão dificil para os outros alcançarem, e mais, os próprios clientes denotam diferenças, muitas... pois conseguem ver quem está preparado, quem lhe esclarece dúvidas que muitas vezes não advêem apenas do âmbito da reabilitação, por vezes tem a ver com terapêutica que lhes é prescrita...
Ficava aqui a reunir argumentos , mas não vale a pena cansar-me quando vejo uma inveja tão grande perante uma especialidade que tem por base uma licenciatura e um complemento tão exigente... Eu não me sinto nada inferiorizada em relação aos terapêutas, pois acho que ambos são importantes e sei o trabalho que exerço. A melhor prova é a resposta dos meus clientes...
Talvez por isso em muitos serviços hospitalares quem trabalha são enfermeiros de reabilitação...
Bem haja.

Ft. Miguel Estêvão disse...

Antes de mais peço desculpa por não a tratar pelo seu nome mas não o vislumbro em parte alguma.

Permita-me agradecer-lhe o comentário. Um dos objectivos deste espaço é mesmo esse, a troca de opiniões; opiniões essas que se querem devidamente fundamentadas...

É com tristeza que me apercebo que pessoas tão instruidas possam desconhecer de forma evidente a Fisioterapia em si e as suas verdadeiras competências e dinâmicas. Aí está uma área em que temos de investir...
É importante que pelo menos os colegas da área da saúde tenham esse conhecimento.

Fica claro desta forma que seria impossivel esgrimir argumentos consigo de forma inteligente e elevada. O seu desconhecimento chega a ser grosseiro. Ao ler as suas palavras só me ocorre uma frase... esta não a aprendi em qualquer licenciatura ou grau de especialização mas considero-a muito útil e de uma verdade imensa:

"Quando um sábio discute com um néscio, quer se zangue quer se ria, jamais terá descanso."

Desta forma comprometo-me desde já a explicar a Fisioterapia em artigos próximos e em linguegem bastante simples. Espero que tenha oportunidade de os consultar.



Cumprimentos



Miguel Estêvão

Ana Clemente disse...

Como é que é possível que um dito profissinal de saúde tenha uma visão tão ignorante sobre o trabalho da Fisioterapia...essa do não vermos o doente como um todo é fantasiosa...

Sem palavras...

Cumprimentos

Anónimo disse...

Abracem a profissão que exercem com tudo o que ela vos permite, ser fisioterapeuta ou enfermeiro isso não é preocupante, pois trabalho, felizmente não falta. Todos se complementam e a relação entre todos pode ser sádia.
Não critiquem sem conhecer, sem estarem inseridos no meio e sem conhecer as potencialidades de qualquer um dos ramos. Afinal existem competências que estão legisladas e são do conhecimento público como é o regulamento de competências para a enfermagem de reabilitação.
Quando ontem me referia ao ser holísttico refiro-me por exemplo às ínumeras situações... ex. as advindas dos períodos pós-operatórios, por exemplo (um caso simples):
- Um cliente com bom estado geral, bem na realização das AVD's matinais,hemodinamicamente estável e com quadro álgico controlado inicia um treino de marcha com todos os cuidados inerentes ao mesmo (contenção elástica, levante progressivo, tranferência sem intercorrências). A dada altura inicia quadro de sudorese intensa, palidez generalizada, astenia e mal-estar global.
- Qual a intervenção do enfermeiro de rebilitação?
- Qual a intervenção do terapêuta?
Qual a etiologia da situação apresentada?
Percebem onde quero chegar? Todos são importantes , mas desculpem-me a sinceridade sabendo que estou a ser polémica, o vosso entendimento do ser holístico é muito diferente, considero que para serem uma profissão completa necessitavam de mais conhecimentos na àrea da farmacologia, fisiopatologia,destreza em determinadas técnicas e na ligação do manifestado com a etiologia...talvez por isso os nossos ramos se complementem!
deixo os meus parabéns pelo blog e eu própria adquiro conhecimentos convosco, porque só com humildade é que se consegue melhorar. Não pensem que os enfermeiros só aprendem com os enfermeiros e os terapeutas com terapêutas.
Respeitem o trabalho de cada um.

Ontem talvez tenha sido algo incorrecta, mas não compreendo a aversão que existe entre as diferentes classes profissionais...

Magna Figueiredo

Hugo Pinto disse...

Não sei sequer por onde começar...

Em qualquer situação em que exista algum debate sobre questões de autonomia profissional e de corpo de saberes profissionalizante existem sempre debates em que é possivel esgrimir argumentos de parte a parte e todos eles farão sentido... Isto sempre aconteceu e sempre acontecerá:

- As negogiações de autonomia fazem-se e sempre se farão com o poder instituido.
- É uma batalha constante e transversal a todas as profissões. Relembro-me a pouco tempo de noticias respeitantes à possibilidade dos enfermeiros passarem receitas médicas com o intuito de facilitar alguns processos do pesado sistema nacional de saude. Não vou opinar sobre isto mas parece-me claramente um inicio de negociação de autonomia:" se já fazemos isto e temos formação em farmacologia... Porque não?"

A questão em debate tem precisamente a ver com isto. A enfermagem na sua totalidade compreende um corpo de saberes e pessoas enorme e capaz de se extender perfeitamente a muitas mais areas do que aquelas que faz actualmente, no caso em discussão, a Reabilitação... Pois, mas na reabilitação existimos nós que tambem temos formação em farmacologia, fisiopatologia e todos os afins que disse e eu tambem não me sinto diminuido em relação a qualquer enfermeiro tenha ele formação acrescentada em reabilitação... Alias a minha é so nessa area o que faz de mim especialista na matéria... Creio que é razoável assumir que também se sente capaz de o fazer. Creio também, no entanto, que com a enfermagem a tentar aglutinar todos os sectores da saude negociando com toda a gente entretanto se esqueça de onde vem, deixando assim trabalhos menos "dignificantes" para os auxiliares como por exemplo a Higiene do Doente...

Tente lembrar-se de onde vem, de como tudo começou. Vai ver que se surpreende com a resposta...

Mas já agora, faça-me a vontade e responda-me se se sente preparada para passar receitas médicas porque assim tudo fará mais sentido para mim... :-)

Um Abraço Miguel

Fisioterapeuta Hugo Pinto

Anónimo disse...

Coitados do enfermeiro, uma vida inteira a ser rebaixado pelos Médicos! Tal complexo de inferioridade arranjou cura na enfermagem de reabilitação! SR. ENFERMEIRO ANONIMO, até tenho pena de si, por acreditar tão cegamente que enfermeiro é melhor que fisioterapeuta! Deixo lhe um conselho, além de ver o corpo como um todo, tente usar também como um todo o seu cérebro! Pois só assim vai perceber que a enfermagem e a fisioterapia são diferentes, nem melhor ne pior uma que a outra, simplesmente diferentes e claro complementares. USE ambos os hemisférios cerebrais e perceberá Sr Enfermeiro Anônimo o quanto está a ser Asno!